7 de dezembro de 2011

Fragrâncias da Insonia



Oh sono tranquilo que te foste embora para gozares da beleza desta noite de lua cheia e me deixaste só no quarto escuro.
Os teus planos foram em vão, porque nem a insónia me tomou nos braços. Fiquei à deriva neste imenso oceano de lençóis já amarrotados pela turbulência dos meus pensamentos.
Deixei-me arrastar nas ondas submersas de ideias baralhadas, à espera de pegar na extremidade do fio e iniciar uma nova meada, livre de nós e emaranhados.
Encontrei-a disfarçada de dobra do lençol, aninhei-me lentamente como se quisesse entrar no paraíso do tamanho abaixo do meu volume corporal.
No seu interior, acariciou-me a quietude das palavras vãs e das frases soltas sem sentido.
A perfeição deste silêncio deixou-me livre para arrumar individualmente em cada gaveta, as palavras que já teimavam acompanhar a borboleta que esvoaçava lá fora no parapeito da janela.
Amuadas lá iam eles, devagar, os vocabulários moviam-se com ar de saia justa, como se entrassem no castigo não imaginando que o seu trono brevemente iria triunfar, dando vida a criativos textos que se desenrolavam a cada respiração.
Outras ondas queriam-me impulsionar, disfarçadas de melodias estrelares. Mas alerta, permiti-me desviar dos rochedos pontiagudos, ciente que neles podia encontrar a tempestade mais difusa de mim. Preferi deixá-los inertes no seu canto, à espera que o embalo do próprio processo da vida os acalmasse sem necessidade de qualquer tipo de competição.
Finalmente tranquila e perfeitamente convicta, elejo os trilhos da minha insónia degustando o espontâneo dom criador, permitindo que as ideias brotem livres no seu percurso.
Porque esta sim, é uma salutar viagem que permite estar confortavelmente em paz comigo própria.

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