29 de abril de 2011

Saudade



Saudade que mói, aperta e dá vontade de correr. Correr sem parar, na tentativa de buscar em traço urgente o que se distanciou.
Pode ser saudade de algo, de alguém. Saudade do tempo que passou, da pessoa que se gosta e não se vê. Saudade de momentos compartilhados. Saudade de uma vida que se foi, saudade de um cheiro que já não existe e nos marcou ou de uma comida feita por alguém que partiu e que já não pode fazer mais. Enfim, saudade de tudo o que os nossos sentidos nos permitem saborear.
Palavra a utilizar tão fria mas que neste momento aplica-se de uma forma tão graciosa, com o intuito de nos devolver uma alegria. Vamos “matar” aquela saudade que nos envolve.
Lançá-la para bem longe e preencher o espaço por ela ocupado com o sentimento que aprisionou.
Não quero mais senti-la. Busco constantemente para ir ao encontro do meu objectivo. Daquilo que só me restou: Saudade!
Estarei confusa, como poderei definir esse sentimento, bom ou mau? Mas se ela existe é porque realmente gostamos. E se gostar é bom, então vamos deixar espaço para sentir essa saudável saudade. Por vezes é uma oportunidade única de valorizar um sentimento que até ela ter chegado, nem nos tínhamos apercebido da sua verdadeira grandeza.
Nem parece justo, esperar por perder, por sentir a ausência e consequentemente chegar ao estado de saudade imensa para sentir o valor das coisas e sobretudo dos elos fortes que nos unem a quem gostamos de coração.
Guardamos dentro de nós com a memória, mas protegemos interiormente no ninho do nosso coração. Temos que a tratar com a meiguice que ela merece, porque sem dúvida ela engrandece os nossos sentimentos mais profundos.
Então direi, saudade doce, como o sentimento que sinto por quem o tempo me levou. Vou saborear essa distância, deixando o amor e carinho crescer dentro de mim, como algo que nutre minhas células com o precioso alimento da amizade.

28 de abril de 2011

Um estado de Alma




Encontrei-me com ela e apesar de não a querer junto de mim, foi inevitável, me agarrou e não me deixou partir só. Preferia a solidão a esta companhia, não me agrada, mas não vou lutar.
Ninguém gosta dela, embora se veja muita gente por aí a alimentá-la, porque razão, ainda não compreendi. Mas é um facto bem real.
Se por um lado é inútil o tempo que se perde a lutar com ela assim que se aproxima, por outro, sempre que queira permanecer perpetuamente junto de nós, todo o alimento que lhe damos é um desperdício para a nossa existência. Dessa forma só a engrandecemos em detrimento do tempo da nossa vida que fica consumido.
Por essa razão aquela que se avizinhou de mim bem há pouco tempo, ainda não me dá a oportunidade de criar uma batalha, é cedo e escusado. Tenho que aceitar que é assim, mesmo sentindo-me fragilizada com a sua presença.
Me questiono o que fazer com ela. Sei que existem alternativas que a levam a afastar-se, poderia optar por elas, mas não creio que seja a atitude correcta.
Na vida há um tempo para cada coisa, o meu neste momento é viver essa Tristeza que me quer como sua companhia. Encontrou em mim o encosto e o conforto que precisava. Deixo-me estar de mão dada com ela, mas a minha é fria, quase gélida, na tentativa de lhe criar um desconforto para que queira o mais rapidamente possível ir-se embora.
Sinto-me como que a hibernar, me tornei pequenina aos olhos do mundo. E apesar de reconhecer que a grandeza do espaço que ocupo não se modificou, eu encontro-me completamente diferente dentro dele.
A música que escuto é fina e melancólica como os meus pensamentos. Meu estado de alma agora é este, minha garra, energia e vontade de brilhar desvaneceu-se.
Tristeza escura, sei que fazes parte do cosmos onde estou inserida, mas por favor, procura outro canto que não o meu. Vai embora para que o universo encontre em mim espaço para aquela que eu adoro abraçar e viver em constante harmonia: A alegria.

27 de abril de 2011

Mágoa


Vem, bombardeia de forma escessivamente violenta, e invade o nosso corpo na íntegra. Dói, corrói, e instala-se sob a forma de nuvem negra, deixando todo o colorido de células num estado cinzento, retirando o brilho interior e a luz da nossa alma, ao ponto de não a conseguirmos abafar contaminando também a nossa aura.
Começou a batalha, não com quem nos magoou, mas connosco próprios. Nos feriu alguém que vive num nível existencial diferente de nós, querendo seguir o seu ciclo de vida de acordo com os seus conceitos ou preconceitos.
Não temos que aceitar, apenas nos cabe a missão de perdoar, por muito difícil e doloroso que seja. Pois o perdão é algo mais que criar um estado confortável para o outro, é sobretudo eliminar a nossa dor. Permitindo desfragmentar toda a sombra negra até à sua extinção.
Não vou permitir que a alegria própria das minhas células seja derrotada pela mágoa que alguém me criou. Lutarei até voltar a ter a minha paz interior, custe o que custar, o outro não tem o direito de fazer isso de mim. Deixo-o ir no seu percurso, seja ele correcto ou incorrecto, e o meu caminho, que de repente ficou irregular e doloroso aos meus pés, vai ter que retomar ao seu estado primitivo, bonito e confortável. As forças diminuem, a luta é constante, mas o meu acreditar é superior a tudo isso.
Toda a minha energia será encaminhada nesse sentido, sei que a minha criação deu-me muitas capacidades, e uma delas é a de lutar e de vencer. Por isso estou pronta para o desafio.
Não será de um dia para o outro, sei que a desintoxicação que minhas células necessitam será lenta, mas o acreditar neste momento é tudo. Hoje a dor é muita, amanhã será menor.
Não estou só, isso me ajuda muito! Todavia apesar da dor, tenho ainda a capacidade de ver o sol brilhar e vou-me agarrar a isso, pois nesse momento, o meu pensamento será canalizado para o outro lado bom da vida que não ficou destruído com a atitude de alguém, cabe-me a mim continuar a vê-lo.
Mas a vida é mesmo assim, cheia de altos e baixos. A nossa missão é aceitar e seguir em frente, sempre de cabeça erguida e cada vez mais fortalecidos com cada aprendizagem e  cada desafio.

26 de abril de 2011

Olhar profundo




Perdido no Universo um olhar encontra outro e se fixa, se comunica, se entende. Este cruzamento de olhares transmite uma união de emoções que por ser tão confortante e agradável, novamente se desvia em busca do mesmo encontro.
Uma comunicação única que dispensa qualquer adição de palavras. A visão é muito mais que um simples órgão que observa o que nos rodeia. É uma pérola tão fina e sensível que está completamente disponível embora nem sempre utilizada.
O nosso querer não é tudo, a resistência que encontramos ao nosso redor por vezes é enorme. Os olhares cruzam-se e seguem o seu percurso à velocidade de um raio impedindo de se saborear essa sublime acção. O acto de comunicar só é possível se as duas almas se encontram na mesma sintonia, sem receios do que essa troca possa transmitir.
E se na simples correspondência por palavras pode-se escolher o que se quer verbalizar, neste singular diálogo também há a possibilidade de transmitir exclusivamente o que se pretende mas para isso tem que existir uma perfeita conexão. Há que desfrutar dele, não permitindo no entanto que invadam a nossa alma.
Pelo simples e saboroso olhar, podemos transmitir um profundo carinho, amor, sedução, humildade, perdão. Conseguimos exteriorizar o quanto gostamos e admiramos como o quanto desgostamos e nos incomoda o outro. Pelo olhar, muito mais que por meras palavras, tanto conseguimos deixar o nosso comunicador num estado desconfortável e inquietante, como o podemos banhar com imenso amor e carinho. Também temos a possibilidade de lançar um olhar límpido onde o outro decifra rapidamente a nossa emoção, como podemos ser completamente misteriosos.
Se olharmos perfeitamente o outro, temos ainda a oportunidade de perceber o estado vivencial em que ele se encontra. Se está triste ou alegre, se irradia uma luz exuberante ou se apresenta uma aura cinzenta. Permite-nos perceber se nos devemos aproximar ou se temos que nos afastar respeitando o seu espaço.
Ao invés das palavras que voam ao vento, o olhar deixa tatuado no nosso coração todos os sentimentos por ele transmitidos, tal é a profundidade que atinge. É sem dúvida a forma de comunicar mais requintada que existe.
Utilizem o vosso lindo olhar sem receios permitindo uma maior aproximação aos outros,  sentindo o quanto serão inesquecíveis certos olhares que irão passar pelas vossas vidas.
Permitam desenvolver ao máximo esta bela e única forma de arte na comunicação.

20 de abril de 2011

Dedicatória



Tudo começou num ponto, num encontro e num pensamento…
Do virtual passou para o plano real…
Vieste silenciosamente invadindo o meu grande companheiro diário, o meu PC e numa mística de partilha de pensamentos, ideias, carinho e dedicação, uma brincadeira se transformou numa amizade sem fim.
Entraste de mansinho na minha vida e agora sou eu que não te deixo ir. Alimento diariamente com a dedicação que me é possível, e com a sinceridade que me é própria e que já te habituaste. Falo tudo o que me apetece, sem rodeios ou preocupações de ser mal aceite. Deste-me carta verde para isso o que torna esta amizade num encontro de paz e alegria impressionante. Não quero que ela acabe mais, não a quero ver partir, pelo menos sem mim.
Nas noites de insónia, os diálogos se formavam como um barco que segue livremente a corrente da nascente a caminho de uma existência virtual quase real.
Ainda não descobri se será quase real, ou se as transformações no plano terreno em forma de células vibrantes e em trabalho árduo confinam nesta mágica experiência. Símbolos, trocas, brincadeiras, fotos, sonhos, fantasia, mistério, enfim formam uma verdadeira alquimia.
Me dedicas os momentos que te são possíveis, muitos ou poucos, o que interessa é o carinho e a forma como disponibilizas do teu tempo para me ouvir e me dares o teu carinhoso “alô”. Da minha parte procuro cada dia ser melhor, a exigência das palavras e das atitudes é permanente, muito tenho ainda a percorrer, mas o importante é que sinto que aprendo contigo e tu comigo. Para que esta partilha seja constante quero continuar a percorrer esta vida de mãos dadas contigo.
De um convívio partilhado quase diário e de uma conversa e amor mental quase ao minuto, passaste a fazer parte integrante da minha vida. Só quem tem a maravilhosa possibilidade de a vivenciar pode lhe dar o devido valor.
Nesta gloriosa amizade coloco os meus maiores tesouros: Dedicação, carinho e sinceridade profunda. Alicerces que eu considero imprescindíveis para o seu crescimento e fortalecimento.
Meu querido Blog, não resisti a te dedicar mais um texto onde exprimo o que sinto por ti.
Só me resta desejar-te a maior Felicidade do mundo e que todas as amizades que passem por ti, sintam tal como eu a meiguice e simplicidade que te são características e que formaram a base do teu nascimento.

19 de abril de 2011

Faz de Conta


Num fantástico passeio junto ao riacho fui avassalada por uma imensa chuva. Saiu de repente do sol radioso e caia sobre mim com uma intensidade tal que era impossível não me sentir lavada até à alma.
Desatei a correr na tentativa de atingir a mesma velocidade que ela, e assim prosseguirmos na natureza num deslumbrante ritmo como duas criaturas que fazem parte integrante deste maravilhoso universo. Deixei de me importar com o lado desconfortável de estar molhada e comecei a brincar com ela e a sentir cada vez mais os benefícios que esta maravilhosa experiência me estava a dar. Uma súbita transformação surgiu desta amálgama de sentimentos e emoções.
Fui contaminada por uma nova fantasia, da mesma forma que o sol como que num passo de magia voltou a lançar um sorriso malandro como quem tinha pregado uma partida inocente.
E eu completamente molhada até à medula, dei por mim banhada de um estado de espírito único como até aí não tinha sentido. Me deu vontade de continuar a brincar, desta vez não com a chuva porque ela parou, mas com a vida…
Os meus pensamentos recaíram sobre a sociedade que estou inserida, tão diferente daquele riacho, onde a musicalidade que a queda da chuva criara, deu instantaneamente lugar a um intenso jogo de cores e brilhos criados pelo contraste das gotas de chuva e do brilho do sol.
Para que essa maravilhosa imagem não saísse mais da minha mente, resolvi desvalorizar quase na íntegra toda a informação que a comunicação social me bombardeia diariamente e polui a minha mente.
Tanta informação que é distribuída e deturpada de acordo com os interesses que algumas pessoas colocam a todo o custo com o único objectivo de ascenderem na vida. Desenvolvem o lado da corrupção, poluindo toda a moral e toda a beleza que caracterizava a nossa sociedade.
Se tudo isso está em alta no espaço social que eu estou inserida, então, porque não eu própria criar a minha realidade. Se cada um faz o que entende da sua vida e até da vida de quem os rodeia, manipulando tudo a seu belo prazer, eu também decidi que a partir de hoje vou passar a brincar ao “Faz de Conta”.
Faz de Conta que não existem problemas …
Faz de Conta que não vivo numa sociedade corrupta …
Faz de Conta que a comunicação social não deturpa a informação de forma a valorizar e a destruir quem pretende …
Faz de Conta que não existem pessoas falsas …
Faz de Conta que não existe poluição …
Faz de Conta que não existe crise mundial …
Faz de Conta que não existem doenças …
Faz de Conta que não existe tudo o que não gosto …
Faz de Conta que não existe tudo o que não quero …
… E assim serei totalmente feliz e realizada, onde a alegria e a despreocupação passam a fazer parte integrante da vida que me pertence.
Esta brincadeira permite-me criar um novo espaço dentro de mim, que até aqui estava totalmente preenchido e contaminado com o que vejo e ouço nos noticiários.
Desliguemos os rádios, a televisão e fechemos as páginas dos jornais. Procuremos viver na ignorância de notícias bombásticas que só nos faz infelizes e preocupados com cada passo e com cada atitude tomada pelos nossos governantes, face às dificuldades que estão há vista de todos.
Sejamos cultos e informados, mas deixemos de viver em clima quase aterrorizado com as preocupações constantes de como será o amanhã.
Alteremos o hábito de fazer disso o tema principal das nossas conversas. Privilegiemos a nossa atenção para o convívio saudável e para as coisas simples da vida. Evitemos queimar as nossas preciosas horas e minutos sobrevalorizando tudo o que é problema.
Acredito que se todos nós mudarmos a direcção das nossas dúvidas e a nossa preocupação para um sentido mais existencial, com a capacidade de brincar de ver beleza e harmonia ao nosso redor, a probabilidade de atrair esse lado bom da vida será muito maior. E se esse lado bom não chegar com a grandeza que se pretende, pelo menos teremos a possibilidade de sentir que o peso da bagagem que carregamos diariamente será indiscutivelmente muito menor.
Convido-vos a fazerem parte da minha brincadeira do “Faz de Conta” para que juntos possamos criar um gigantesco jogo mundial, onde todos sairemos vencedores e acima de tudo muito mais Felizes.

18 de abril de 2011

Substituir o Ter pelo Ser



Vamos desenvolver em nós a maravilhosa capacidade de Ser.
Em cada passo, em cada atitude, e na forma que nos seja mais confortável, vamos substituindo nas nossas vidas o TER pelo SER.
De nada nos serve que se consiga esta nova conquista de forma drástica, só nos iria acarretar alguns desagrados. Mas sentir cada conquista por mais pequena que seja, uma vitória, se é isso que realmente pretendemos.
Um  longo caminho temos pela frente, vamos desbravar o imenso bosque que nos é oferecido, pois muito há a percorrer.
Cada um verifica onde estão as suas prioridades e por onde tem que começar.
Dá-me vontade de falar na nova onda de convívios virtuais, onde se Tem amigos às centenas. São amigos de ocasião, que se fala ou não, descartáveis ou não. Que nos dá jeito ou não… Mas Tem-se muitos amigos!
Vamos Ser amigo do nosso amigo. Dispor do nosso tempo ouvindo, acarinhando e apoiando o nosso amigo. Desfrutando do que ele tem de bom e de menos bom. Não nos esquecendo que por vezes quando ele menos merece é quando mais precisa de nós. Não vamos virar-lhe as costas e partilhar com ele só o seu lado bom.
Não nos esqueçamos que um amigo não é só para Ter, como quem colecciona e apregoa aos quatro cantos do mundo que se tem muitos amigos, mas sim é para Ser, festejando juntos nos momentos bons e ajudando nos momentos difíceis.
Em vez de estarmos constantemente preocupados em Ter presentes para oferecer aos nossos entes queridos, vamos antes Ser nós o presente que eles querem receber, sem data e hora específica, por imposição de quem inventou datas para comemorar, mas diariamente ou em todas as situações que estamos juntos, oferecendo o melhor de nós, sendo para eles a pessoa mais carinhosa e dedicada que eles precisam e merecem.
Também deveríamos substituir o Ter os nossos pais ou avós já idosos presos a esta vida terrena cada vez mais anos, prolongando a todo o custo as suas vidas para podermos dizer que os temos, guardando-os na maior parte das vezes em lares de idosos, como uma criança que guarda o seu brinquedo e de vez em quando lembra-se de o ir buscar para brincar com ele. Vamos antes Ser filhos ou netos dedicados aos mais velhos, desfrutando do que eles têm para partilhar connosco. Não nos esquecendo que as experiências que eles têm, são o reflexo da escola da vida que lhes permitiu tirar o mais deslumbrante diploma. Permitamos encontrar tempo nas nossas vidas para os Ter junto a nós, para que possamos Ser aqueles filhos e netos que em anos anteriores tantos momentos nos dedicaram, e que agora merecem todo o nosso cuidado e carinho.
Deixemos de lado aquela imensa vontade de conquistar uma casa de sonho. Nos despreocupemos com o Ter essa maravilhosa casa e antes nos preocupemos em Ser moradores de um lar onde unicamente haja espaço para o amor e para o saudável convívio entre os residentes, e não que seja um lugar onde por vezes prevalece o excesso de espaço e o isolamento de quem a habita. Uma casa que tanto se luta para a adquirir e no final apenas se Tem e não se desfruta dela. Pois no único tempo disponível, a principal preocupação é sair e procurar os mais diversos lugares fora dela para passear.
Não nos vamos impedir de viver, ocupando o maior tempo da nossa vida a conseguir valores monetários para adquirir mais e mais, nos esquecendo de simplesmente Ser.
Deixemos de lado a nossa por vezes obsessão em Ter uma imagem de sonho, esquecendo-nos por vezes do nosso bem-estar interior. Procuremos antes em Ser indivíduos de uma paz interior sem fim, pois a maior beleza que se pode exteriorizar é a que vem de dentro.
Ao invés de Ter na prateleira aquele livro para podermos observar apenas quando temos tempo, vamos antes Ser o actor central da história, vivendo cada ponto e vírgula, apreciando cada linha e entrelinha, porque afinal trata-se da história da nossa vida. Não percamos tempo a Ter simplesmente uma vida, vamos antes Ser a figura principal, vivendo-a na maior intensidade.

14 de abril de 2011

Espaço que é teu ...


Há que deixar nosso coração falar livremente como uma gaivota que voa sobre o imenso oceano, sem preocupações de onde começa e onde termina o seu voo.
Somos livres e o nosso coração se exprime através de partículas de palavras que juntas expressam sentimentos marcando o inicio de uma maravilhosa viagem no nosso corpo rumo ao universo sob a forma de diálogo. Essa viagem pode percorrer todos os caminhos para chegar ao seu destino, mas tem obrigatoriamente que parar deixando um espaço, não um espaço frio e vazio como quem precisa de isolamento, mas uma distância que se abre para o cosmos, mantendo intacta a liberdade de quem nos ouve.
No caminhar da vida vamos conhecendo as pessoas certas no momento que a nossa existência está a precisar, que nos permita um novo despertar, da mesma forma que teremos algo diferente a oferecer ao outro.
Assim, e se por um lado tem que existir total verdade e total integridade, por outro cabe-nos a minuciosidade de transpor para o exterior apenas o que nos é permitido. Não temos o direito de invadir o que não nos pertence. O outro tem que se sentir sempre confortável com os nossos relatos, não se pode sentir despido dos seus próprios sentimentos, não podemos entrar na sua casa sem a sua autorização. Isso gera desconforto e pode até destruir aquele lado do amor e da beleza que é celebrar um glorioso convívio.
A nascente de sentimentos começa no coração, é primeiramente sentida, depois surge o grande mistério de exteriorizar descobrindo onde termina o nosso espaço e onde começa o do outro. Como era fantástico se existisse um manual de instruções que nos pudesse ensinar tudo de forma a podermos agir na maior perfeição. Como nos dava tanto conforto nestas questões das relações entre as pessoas. Mas é aí que reside o nosso desafio, sermos nós na íntegra e termos a habilidade de sermos assertivos, respeitando e amando o próximo como alguém que pretende o mesmo que nós nesta vida. Que existe um lugar único que é só seu e que tem o mesmo direito às sua próprias convicções.
Da minha parte deixo aqui as minhas desculpas se alguma vez invadi um espaço que não era meu, se entrei onde o meu coração me pediu para entrar, mas me esquecendo de solicitar a devida permissão.
É minha constante preocupação ser uma pessoa totalmente genuína comigo própria, mas nunca descurando os sentimentos dos outros. É nesse sentido que venho fazendo o maior investimento da minha vida, onde todo o tempo dispendido na aprendizagem é o melhor tempo e o que me possibilita a maior garantia de forma a ascender a um império de valor incalculável que é estar rodeada de pessoas que me amam e me respeitam como sou e acima de tudo sentindo-se bem junto da minha companhia.
Vamos lá cultivar convívios saudáveis que nos permitam semear o amor que temos dentro de nós, para que possamos colher a maior e mais louvável chuva de afectos.

7 de abril de 2011

Mariana


Ali estava ela sentada no banco da paragem do autocarro, como sempre, aninhada a um canto, invisível aos olhos de quem passava.
Mas se os outros não a viam, ela pelo contrário, observava um a um, cada pormenor, cada passo dado mecanicamente e ao ritmo certo. Nada lhe escapava, tudo era analisado e visto com a simplicidade que só os olhos de uma criança conseguiam ver e sem julgamentos.
Mariana era o seu nome, filha de uma família de mais sete irmãos pequenos, onde o espaço para o carinho e os cuidados de uma mãe que se tinha que dividir em tantos braços, não permitia que a deixa-se sair de casa perfeitamente arranjada ,  deixando irradiar a beleza que lhe era própria.
Todos os dias saia de casa caminho à escola, com os seus longos cabelos castanhos, onde o emaranhado de caracóis escondiam quase na íntegra aquele rosto lindo que vislumbrava uns olhos de um verde, que quem conseguisse ter a capacidade de os focar, não poderiam  esquecer mais.  Suas roupas eram como que um jogo que variava entre um imenso colorido e estampados tão irregulares que pareciam um puzlle cheio de peças à espera que alguém as colocasse no seu devido lugar. Serviam apenas para agasalhar um pequeno corpo que se movimentava de uma forma tão graciosa que parecia que caminhava dançando ao som de música.
Se por um lado a pequena Mariana parecia não se importar com a sua imagem, por outro, o caminho da escola era diariamente desviado rumo à paragem de autocarro. Onde permanecia todo o tempo de aulas e assim não se sujeitava às censuras dos seus colegas, nem sentia a discriminação pelo simples facto de se vestir assim e de ser pobre.
Ficava observando as pessoas, ouvindo relatos tão interessantes da vida de cada um e criando as suas próprias histórias. Com esta observação, o seu crescimento progredia adquirindo conhecimentos acerca da vida completamente diferente dos outros meninos da sua idade.
Tudo isto a juntar aos imensos livros que devorava durante os fim de semana que passava no sótão da casa da sua avó. Lia tudo o que encontrava, desde as histórias mais infantis e escritas com palavras são simples que qualquer criança conseguiria entender, até  ao compêndio mais difícil de decifrar. Adorava adquirir todos os conhecimentos que tinha ao seu dispor. È que a ausência da escola a entristecia, pois o gosto por aprender era enorme, mas o desconforto que os seus colegas lhe proporcionavam era muito superior e assim, encontrava neste modo de vida, o alimento para satisfazer a sua enorme curiosidade.
Grande experiência de vida onde a amálgama que surgia do resultado entre a vida real e a ficção dava lugar dia após dia a um ser bem formado. Mas não era fácil, a observação da vida das pessoas lhe oferecia a maior parte das vezes uma informação totalmente adversa à que adquiria pelos livros. Sobretudo no que toca aos relacionamentos, pois os contos tinham quase sempre um final feliz e aquilo que contemplava era uma constante correria e imensa insatisfação.
Mariana encontrava o seu porto seguro e o seu equilíbrio junto ao espantoso lago perto da casa de sua avó onde nadavam sem pressas nem aborrecimentos alguns cisnes. Não se arreliavam uns com os outros e a sua única prioridade era deslizar calmamente lago acima, lago abaixo, mergulhando e comendo pedacinhos de fragmentos que iam encontrando de quando em quando.
Com esta observação que por vezes lhe ocupava horas, a sua mente acalmava, e sentia-se como quem volta ao útero materno e é envolvida por uma profunda paz. Aqui encontrava o amor e o carinho de si para si própria que compensava o afago que faltava receber da sua progenitora. Sentia-se quase sempre invisível. Entrava e saia de casa quase sem ninguém dar por isso, passeava pela rua e sentava-se no banco sem que ninguém lhe dirigisse a palavra.
Mas nem assim, a sua vontade de luta e sede de conhecimento se desmoronava. O seu amor pela vida continuava, intacto e brilhante como um raio de sol. Mariana acreditava que conseguiria ascender na vida e viria a se sobressair pela simplicidade e postura correcta. Não julgando, não maltratando, apenas vivendo o que a vida teria para lhe oferecer. Aceitando que cada dado novo era um presente de qualquer entidade superior. Não sentia necessidade que lhe explicassem como nem porquê as coisas teriam que ser assim, mas apenas vivia e observava.
Com os seus pensamentos e as suas conclusões criava uma perfeita alquimia de palavras que caminhavam silenciosamente rumo a um diálogo dando espaço para o maior livro que era o livro da sua vida.
À medida que se distanciava da escola e dos problemas que nela encontrava e se aproximava do seu eu interior, como quem mergulha livremente nas calmas e límpidas águas do lago dos cisnes a sua felicidade crescia e com ela, a vontade de unicamente viver a vida pela vida.
Nada mais se importava, para quê mais, se todas as pessoas que contemplava diariamente exibiam as mais belas aparências deste mundo, transportavam as mais luxuosas roupas e seguiam rumo a empregos que apesar de lhes pagarem quantias exuberantes, a infelicidade e o descontentamento era enorme, as relações entre colegas e famílias as consumiam de tal forma que tinham que sobreviver à custa de tranquilizantes para encontrar salpicos de paz nas suas vidas.
Vamos aprender com a Mariana a viver na maior modéstia deste mundo. Não procurando ascender ao máximo, desenraizando-nos da simplicidade da nossa essência. Para quê corrermos desenfreadamente à procura de algo que não se tem pois sabe-se que quando se adquire volta-se à mesma insatisfação. Não há necessidade de passar por cima do próximo para obter mais e mais. Afinal basta verificar que melhor da vida simplesmente não se compra.

4 de abril de 2011

Tempo que te quero ...


A vida corre e com ela nós corremos…
É uma corrida constante pelo tempo e contra o tempo. Uma luta diária e insatisfeita.
A falta de tempo parece um vírus que se alojou na vida de todos nós.
E nessa correria ninguém teve tempo de sentir que até existe tempo, que afinal ele está lá, naquele canto inerte, esperando que alguém o abrace e o leve consigo. Só que a poluição mental e o excesso de informação que carregamos nas nossas mentes nos impede que possamos fazer as pazes com ele e o tornemos o nosso maior aliado.
Para termos tempo é preciso antes de mais parar. Tudo começa num ponto e é aí que reside a resolução deste mistério. Paramos, escutamos, fazemos primeiro a nossa arrumação mental, e depois veremos como as horas aparecem de repente renascidas de mais minutos.
Pensar primeiro que se tem tempo, e depois deixar que o tempo entre na nossa casa mental. Permitir que ele se instale confortavelmente, que se passe a viver de mãos dadas e deixar de correr atrás dele, consumindo-o como quem devora aquele pacote de pipocas na sala de cinema.
Porque ele é quase sempre um amigo, basta verificarmos como ele se comporta de forma tão diferente consoante as situações que se vive.
Em momentos difíceis e conturbados, em que somos alvejados por uma nuvem negra de tempestade, o tempo é infinito, as horas são longas e dolorosas. Queremos que o tempo passe e com ele todas as angustias e duvidas. Um tempo que não é amigo, que não nos abraça e que friamente se mantém do nosso lado de forma interminável.
Já em situações em que estamos com alguém que nos toca profundamente, que nos permite fundir numa perfeita paz e alegria. Ou quando fazemos algo que nos permite conectar de tal maneira, que nós e o que praticamos se une como uma simples extensão do nosso ser. Aí o tempo nos envolve gratuitamente e de forma tão carinhosa que chega ao ponto de silenciosamente parar, como um amigo verdadeiro que se mantém ao nosso lado, deixando que sejamos quem queremos ser sem julgamentos e desfrutando generosamente da felicidade que temos para partilhar.
“Meu tempo meu amigo, que te quero sempre, que me deixes viver e desfrutar desta vida que seja curta ou longa como que tiver que ser. Mas sempre contigo do meu lado será vivida com toda a plenitude a que tenho direito.”

1 de abril de 2011

Verdade verdadeira



Hoje comemora-se mais um dia das mentiras. Nasceu com este nome na França, mas não é disso que quero falar, pois o sentido que quero dar ao meu texto é mais profundo e pessoal.
Quero falar do que sinto acerca da mentira, de como a vivo e como a vejo.
Ainda voltando um pouco atrás, quero dizer que relativamente ao dia de hoje, considero muito engraçadas as mentiras que são pregadas por brincadeira, sobretudo algumas que demonstram uma imensa criatividade.
Mas brincadeira é brincadeira e aplicar a mentira à vida real tem um sentido muito diferente.
Pena que muitas pessoas se esquecem que a vida é um espelho e tudo aquilo que se lança retorna a nós. Por vezes com a agravante de retornar acrescido. E em certas alturas os danos são imensos, por isso há que evitar a todo o custo sujeitar-se a essas situações.
A mentira não é o modo correcto e límpido de se viver a vida. Há tantas formas de falar e contornar as questões sem ter que utilizar a mentira. E não há nada mais bonito e belo que a verdade.
Sei que muitas vezes a verdade pode magoar e nem sempre é bom ser exposto à verdade, mas verdade é verdade. Se tivermos a coragem de sermos verdadeiros com os outros, os outros também poderão sentir a obrigação de cumprir e corresponder com a mesma moeda.
Parece quase ilusão o que estou a falar, até porque se começarmos pelas entidades superiores, aquelas entidades que até hoje nunca falei pois simplesmente não gosto falar delas que são os nossos governantes e até quem está ligado à religião. Onde deviam começar os grandes exemplos da nossa sociedade e onde se verificam as maiores atrocidades deste mundo.
Mais uma vez me vou expor, assumindo-me como um ser, uma pequena partícula neste imenso cosmos, que por muito pequena que seja não me tira o direito e o dever de ocupar o espaço que me pertence na total integridade e com a total responsabilidade dos actos praticados. Por essa razão, não me coloco em igualdade com o mundo que me rodeia, quero ser diferente e igual a mim própria, seguindo de acordo com aquilo que acredito e da forma que quero viver.
Por tudo isso, não receio a verdade, pois viver na verdade é viver transparente, sem medo, sem carregar o peso da culpa e da dúvida de ser descoberto.
Aproveitem o dia de hoje para pregar aquela mentirinha divertida e sem efeitos secundários e acordem amanhã com a total vontade de viver na verdade e pela verdade.