29 de novembro de 2011

Vou-me embora



Esbravejo sentidos desabafos do acúmulo de anos muda na quietude do meu querer.
O chá amargo das dispensáveis visitas, estatelaram-me na já calejada poltrona a sorver uma assembleia de discussões abafada pela melodia da chávena a bailar no pires.
Embalos gélidos de relações que sufocam por “Constelações Familiares” com o intuito de descortinarem a origem dos problemas e a confluírem na amorosa harmonia familiar.
O deserto de diálogos incompletos, escavam buracos de palavras famintas de liberdade a massajar lábios de esperança.
Lamentáveis rumorejos ligam-se em cadeia formando uma teia de “ jogos de cintura”, disfarçados de açucarados vocabulários.
Arestas de copos partidos por actos discriminativos, me quebram e me rasgam toda coração adentro sorvendo a borra amarga de uma vida imperfeita onde já nem o aroma a café motiva ao enérgico despertar rumo a um novo dia de trabalho.
Os ouvidos, esses já rugosos de tantas mentiras, suplicam por um novo e totalmente remodelado banco de jardim, que me permita sentar confortavelmente sobre as inocentes conversas de rua, embelezadas pelo perfume das flores.
Consecutivos finais do mês, transformados em lagos secos onde já nem a mísera moeda lhe permite pedir o desejo da merecida remuneração de dias e dias de trabalho.
Fartei-me de tudo, até do cão, do gato e do canário trilhados de sábias naturezas, tentam me alegrar infrutiferamente com os seus divertidos dotes.
Cansada e totalmente esgotada do sorriso preso por molas no estendal a aguardar que o sol o alimente e o mostre a todos, desvendo o grande segredo escondido por trás de gargalhadas eufóricas e de palavras de alento oferecidas carinhosamente a quem prezo de verdade.
Mas desta vez, basta!
Vou fugir para aquele canto disfarçado de quarto que eu tanto sonhava ter só para mim.
Me recolho ao aconchego do meu mundo de brincadeiras sem me preocupar se vivo ou se simplesmente hiberno. Porque uma certeza se me afigura: Nesta estranha transparência ninguém ousa me desprezar nem humilhar.
E assim, protegida por mim, volto à essência de menina feliz do meu jeito e exemplar aos olhos de quem permito contemplar-me.

23 de novembro de 2011

Cada vida um contrato de aluguer


Tenho a impressão que aluguei uma parte deste mundo para mim.         
Sou hóspede dele enquanto as batidas do meu coração paralisarem o relógio que pulsa segundos.
Alguns parecem saltar em branco, como se sustessem a respiração de tanto quererem escutar as vozes silenciosas dos pensamentos de quem me cruzo.
Um burburinho de nadas, de vagueantes que talvez gratifiquem o aluguer aqui na Terra com o trabalho de suas mãos a aquecerem o fundo dos bolsos.
Outros, estou certa, que abrem as carteiras e trocam o maço de notas do trabalho concluído no escritório após saírem a altas horas de regresso a casa, convictos que recompensaram o tempo longe da família e dos filhos que nem repararam ter crescido.
Vidas que fogem da morte como se com ela tudo terminasse. Ou não!
Destinos, será? Quem o faz? Quem o dita?
Como o pai do meu amigo que numa milésima de segundos e após o estrondoso acidente de comboio, virou pó.
È o que nós somos! Uma vida de matéria submersa que respira enquanto pagamos o aluguer.
E será que lhe pagamos o justo valor?
Será que o relógio não nos vai pedir indemnização pelo tempo mal consumido?
Quero-me sentir em casa, sem precisar de remunerar o espaço que ocupo. Sem remorsos, pela nuvem negra das minhas indignas atitudes, esconderem a luz do sol.
Não quero viver voltada para a parede á espera de ouvir o ranger da porta a abrir-se e virar-me repentinamente, correndo lá para fora festejando a opípara liberdade dos meus olhos que já latejavam de tristeza.
Encolhida me enxergo. Reflicto no espelho de água que a chuva lavou, as dúvidas que me tomam. Tento me erguer e elevar-me à importância de me sentir gratificada e com a conta saldada por viver exemplar no mundo que me hospedou aquando cá cheguei.
 “Missão cumprida”, é a melodia que embala meu sono toda a vez que os lençóis me acolhem após mais um dia que finda.
É pois, vivendo na iminência de ser despejada a qualquer momento, que me resta cumprir o meu dever escrupulosamente e desfrutar de cada momento como se fosse o ultimo.

22 de novembro de 2011

Choro compulsivo


 
No mundo frenético em que vivemos, acolhe-nos problemas mesquinhos, embalados por pessoas como se urgisse deles a vontade de dar à vida uma morte colorida.
Problemas sérios de fome, pobreza e maus tratos, pavores que diariamente os meios de comunicação social espalham ao nosso redor, não chegam para brotar lágrimas de sangue nos corações felizes.
Porque esses ainda escavam desgraças de míseros nadas em atitudes espontâneas que seres caminhantes e imperfeitos, praticam sem maldade, a cada expiração.
São posturas como a falta de abnegação que derrubam gigantes edifícios de amor e amizade.
Um sombrio vapor faz meus olhos navegarem na angústia, por este imenso oceano de lamentações. Ergo minhas mãos directamente ao rosto na tentativa de encobrir a tristeza que jorra em lágrimas.
Necessito de mais mãos para vedar meus ouvidos e impedir de escutar a inclemência de cruéis palavras.
O que querem, o trono da vida só para eles, a liderança sobre todos, ou o mundo inteiro para o manobrar a seu belo prazer?
Quando se tocam e olham em frente com os olhos da humildade, quando usam os seus lábios para proferir palavras doces e servem-se de suas mãos para segurar quem se patenteia cair do precipício de vidas sem rédeas e sem rumo?
È verdade, sei que não sou a detentora dos bons actos e da razão, mas me esforço e sinto-me sobre a linha dessas medíocres atitudes, muitos degraus tenho ainda a subir. O topo também não é o meu objectivo, estar acima deles muito menos, apenas almejo o cume de mim própria. Ascender e deixar no degrau debaixo o meu turbulento oceano. Aquele que indiscutivelmente todos têm em maior ou menor grau.
Tenciono dar as mãos a todos e gritar em conjunto bem alto: Nos amamos e juntos batalhamos por um mundo melhor.
Esse é o lema que devia prevalecer, e não a luta pelo poder. Não à ascensão da soberania da classe social e da classe trabalhadora, não ao poder pela liderança no amor, na amizade e na família.
Na igualdade lutamos pela afeição e pela felicidade do próximo.
Nesta encarniçada guerra, competimos apenas por algo que nem sequer existe: O nosso Ego.
De que têm medo? De ficar sós? De sentirem-se desvalorizados?
Tricas, ciúmes, avarezas, derrubar o próximo, deviam ser atitudes abomináveis ao ponto de os encarcerar na cela do desamor de do ódio por eles mesmos. Só por raros momentos, para que pudessem sentir a dor que causam aos irmãos de luz.
È com imensa tristeza com que verto frias palavras. Não me conheço, não compreendo para onde foi o meu amor incondicional pela vida.
Mas é assim que ela é composta, de altos e baixos, e não podemos deitar no lixo momentos como estes. De tristeza e de profunda decepção por aqueles que disfarçados de anjos pintam nossas vidas.
Este combate é renhido, quero emanar amor e alegria, mas as teclas se agrupam e apenas me permitem narrar desamor e mágoa. Deixo-as livres, porque essas sim, são sinceras na descrição do que sinto, afinal.

18 de novembro de 2011

Peregrino sem fronteiras

Hoje logrei coragem de pegar na minha mochila e viajar sozinha pelo meu ingente mundo interior.
Como quando se decide embargar na aventura de peregrinar para um local longínquo e completamente desconhecido, é indispensável carregar tudo quanto é essencial.
Mas de nada vale atulhar a mala, o percurso será curto e o enlevo da alegria, transforma as gargalhadas da primeira paragem, nas lágrimas da dor de um corpo que se curva e não aguenta a carga.
Assim, completamente consciente que quanto mais leve for a bagagem, mais livre me sinto e emancipado caminho percorrerei. Vejo-me coagida a fazer a minuciosa escolha do que coloco dentro dela.
Eliminei todo o desconforto que o apego me trouxe e toda a dependência que criei dos outros. Esvaziei-a de preconceitos, de desamores, do desgaste dos problemas que sacudiram  as horas do tranquilo sono que minha almofada não hospedou.
Empenhada na minha selecção, recolho ao meu penetrável passado, à data da minha concepção e de onde ela surgiu. Provida de um espontâneo e bonito acto de amor entre duas criaturas, jamais consinto sepultar-me sem antes ascender ao estatuto de um ser maior.
No amor tudo começa, ele alberga tudo o que me rodeia. Alimento-o na aurora de um acordar feliz, onde agradeço ao criador todas as coisas que compõem a minha vida. Permito-lhe que cresça com a mesma grandeza que contemplo os outros e semeio-o com a convicção que é fomentando o bem-querer que o meu ser se ilumina.
No intuito de aflorar um percurso completo e perfeito, derrubo o baluarte de lamentações e ergo a fortaleza dos mais polidos sentimentos que me completam. Prezo gravar neste percurso as pegadas perfeitas resultantes de boas acções e do despertar nos outros de uma deslumbrante onda de bem-estar para que nos possibilite erguer em perfeita comunhão ao enlevo de viventes felizes e completos.
 A leveza das minhas risadas galgam os muros de problemas e ecoam no outro lado da estação a supremacia de um ser caminhante que tem um mundo a seus pés para percorrer.
E assim, de pedra em pedra, peregrino me transformei. Foi cuidando minuciosamente da maior viagem da minha vida que atingi a plenitude com o dom da verdade e do amor.

10 de novembro de 2011

Encontrei-me com a perfeição


  

De lampião na mão, deixo-me iluminar com a doçura da tua alma, encontro no teu regaço o requinte de um ser que ser manifesta integralmente exemplar.
Borbulhas de afagos se misturam com olhares profundos e diálogos perfeitos.
És tu, o outro lado do “meu eu” que me espelha o que de melhor consinto, a perfeição nua e crua.
Não me permito remexer, nessas tuas imensas entranhas, de quereres e histórias que vens esculpindo em cada alvorada.
Simplesmente porque como humano que és, imperfeições também ocupam sinuosos espaços dentro de ti, disfarçados de flocos esfumaçados. Essas irrequietas existências concedo partir junto com o sopro da tua melodiosa respiração.
Albergo-me tranquila dentro desta excelsa bolha que me transporta na mais deslumbrante viagem da minha vida e me guia até à perfeição da criação e da existência.
Desfraldo o feto que me transformei, e nuamente apenas consigo ver pureza ao meu redor. Ciente que assim que viemos ao mundo, somos o fruto da requintada criação. E quando temos a sorte de avistamos o espelho do nosso outro eu e nos reflectirmos seres esmeradamente esculpidos, ascendemos ao nosso máximo.
A beleza da mensagem que me transformas é essa, me fazes sentir irrepreensível, e eu te sinto magistral. Na amizade pura e desinteressada nos aproximamos de Deus e nos felicitamos com tudo o que nos compõem e que nos rodeia.
A sensação de paz é profunda, o calor do sentimento amoroso que nos envolve é grandioso e a felicidade completa.
Permites-me entrar no teu olhar com a mesma intensidade que entro dentro de mim e me possibilitas amar-me como sou.
Neste encontro sorvo a doce inocência que jamais deixei morrer e transformei-me por magia na sublime bola de sabão que airosamente reflecte todas as belas cores do arco-íris.
Quero-te agradecer e fazer-te notar como nobre é tua amizade que me ascende ao majestoso trono de um ser perfeito.