27 de junho de 2011

Sózinha ou comigo?


Abro as portas da minha praia, sento-me na cadeira de suaves dunas de areia e procuro encontrar no conforto do meu mundo de afectos o encanto da amizade que partilho para comigo.
Repouso minha cabeça na almofada do meu silêncio. Quero descobrir neste aconchego um amor maior do que aquele que voa pelos corações dos que tropeço com tamanha alegria.
Aqui no meu leito, despida das penas do carinho que os outros me presenteiam, abro a janela do meu coração e sugo o doce da boa companhia. Perpétuo um profundo diálogo em forma de silêncio absoluto, preenchendo aquele estranho vazio com palavras-carícias que injecto delicadamente dentro da minha alma.
Medos e vazios são lançados ao mar e ancorados no sótão das recordações mortas de cansaço de tanto uso.
A casa a pouco e pouco encontra-se liberta de poeiras de fantasmas vindos daquele barco naufragado há anos na ilha do Sol no Peru.
O espaço desimpedido me permite começar aquela dança que tanto tenho ensaiado. Mas o desaperto do sapato naquele pequeno pé que busca exaustivamente encontrar o tamanho certo, cria um desalinhar de sequências de passos que ainda não pacifica esta companhia.
Mas continuo gladiando porque quero mesmo perpetuar este namoro encantado com a minha solidão.
Pegar nas asas da ousadia e sentir o prazer de voar pelas brancas nuvens da paz que encontro dentro de mim.
Jamais quero sentir solidão ou medo de a abraçar. Almejo profundamente guardá-la com carinho e respirá-la com serenidade em cada alvorada e em cada anoitecer.
… E finalmente poder gritar alegremente com toda a convicção: Fiz as pazes com a solidão quando ela me deixou abraçar a liberdade de amar até ao mais profundo do meu ser.

22 de junho de 2011

... E num suspiro os olhos se fecharam



Como seria bom conseguir desfazer a cama de felpudas nuvens de algodão e trazer aquele belo jovem que Deus retirou a vida instantaneamente aos dezassete anos.
Poder dizer à dor profunda daqueles pais, que apenas foi um pesadelo, lhes entregando intacto aquele filho admirável aos olhos de todos.
Mais uma desastrosa mas infelizmente totalmente verdadeira noticia, destabiliza a minha paz interior.
Reflicto, preciso descobrir as respostas no compêndio da minha existência. Ao que sou estranhamente assolada com uma invasão de dúvidas.
Quero encontrar um conforto e uma explicação. É-me impossível ficar indiferente ao sofrimento alheio. Vivo diariamente em comunhão com jovens da mesma idade, e não consigo imaginar minha vida sem o rubro desta juventude.
Aquele sentido da vida que aparenta uma placitude e uma sequência de acontecimentos tão formosamente enquadrados, são inexplicavelmente destruídos com um virar da página.
Faz-me parecer que de repente estou a ler o meu compêndio de pernas para o ar, e do fim para o inicio.
Não há nexo em nada do que leio, quero procurar um sentido. Procuro uma luz mais potente, uso a minha imaginação para agrupar as palavras noutro contexto, achando que o meu esforço de as desalinhar lhe dariam o sentido certo que ansiosamente almejo encontrar.
Sinto o meu esforço inútil. As frívolas dúvidas desfolhadas de qualquer resposta que me possa deixar com algum conforto possível desfazem-se como poeira ao vento.
Uma vida cheia de sonhos e projectos para um futuro que se descortinava amplo e pintado com as mais exuberantes cores do arco-íris desaparecem à mínima brisa.
Nem mais um passo para a frente é possível palmilhar, nem mais um sopro ou uma respiração. Um imenso mundo, num sinuoso suspiro fez desmoronar tão belo império.
Uma grande lição de vida para todos nós caminhantes. De nada vale correr, atropelar, destruir, reclamar…
Há que enfeitar a mesa da nossa vida com as mais belas e perfumadas flores e na impossibilidade, aceitar cada derrota, cada batalha e cada personalidade que esbarramos a cada dia.
Promover o respeito e a compreensão com o nosso semelhante. Derramar partículas de sinceros afectos e ascender ao patamar da caridade.
Fazer da vida uma constante festa, para que quando as luzes se apagarem, possamos dormir serenamente com a total convicção de MISSÃO CUMPRIDA!!!
(A minha sincera homenagem a Marcelo Ferreira.)

20 de junho de 2011

O peso da máscara


Saio à rua e fotografo pessoas que desalinhadamente vagueiam pelos passeios de calçada.
Me divirto observando-as, procuro as mais tranquilas de forma que a objectiva da minha máquina foque todos os pormenores. Mas me interesso também pelas apressadas, aquelas que correm atrás de uma existência e que nem tiveram tempo de compreender que essa vida que tanto buscam está totalmente ofuscada debaixo dos seus próprios pés.
È fácil verificar como as vivências são tão diferentes umas das outras. Há de facto pontos em comum, todos temos horas para comer e dormir, mas até mesmo essas, encontram-se em qualquer lugar perdidas pelos ponteiros do relógio.
Agora, o que está patente nas expressões que a minha lente permite salientar, é que uns apresentam uma beleza límpida de superficialíssimos, mas outros usam uma máscara tão pesada que as suas vértebras rangem no mais singelo virar da esquina.
È uma carga infeliz e desnecessária aos meus olhos, essa de querer a todo o custo aparentar quem não somos.
Está à disposição de quem quiser, comprar um mero bilhete de teatro e assistir confortavelmente a uma peça. Não me parece nada conveniente andar-se por aí a representar papéis que cabem bem aos actores e não a nós simples sobreviventes deste planeta chamado sociedade.
A entrada para assistir à peça “relato de nossas vidas” tem certamente o valor superior às posses de qualquer um. Paga-se o preço de anos consumidos e minutos desperdiçados a viver uma pesada vida de mentira, aquela que jamais volta atrás.
Pode até saber bem viver dentro de uma história de fadas e príncipes em grandes castelos, mas a fragilidade dos telhados de vidro que os compõem, fazem-se derrubar à mais leve brisa soprada pelo toque do malmequer que dança ao sabor do vento.
Fragilizam-se vidas, e fortalecem-se consultórios de psiquiatria a tratar de dramas e depressões que se alimentam pela pujança dos novos valores que a nossa sociedade se rege.
Parece que de um momento para o outro ficou em desuso o factor simplicidade e a beleza que vem de dentro em detrimento da beleza extrínseca e da ostentação.
Minha máquina fotográfica ficou triste com a pequenez destas visões. Teima em não registá-las. Entro em conflito com ela, pois afinal, faz parte do mundo onde estou inserida.
Na tentativa de me alegrar e entusiasmar esta objectiva de exigente personalidade, continuo a percorrer a rua da minha cidade, mas subitamente meu olhar se fixou num ponto. Minha máquina mudou de tom, meus dedos deslizaram calmamente e num clic lá registei um facto extraordinário. Um jardim cheio de crianças brincando livremente nos seus baloiços, despreocupadas de serem quem não são. De se fazerem passar por princesas de gigantes castelos.
 Com esta visão me questiono, será que eu é que estou enganada? Será que os adultos usam a máscara para continuarem a brincar aquela brincadeira que começaram em criança?
Seja qual for a situação, sinto que fantasiar é bom, mas viver eternamente mascarados, não nos permitindo criar espaço para viver a nossa única vida é que me parece totalmente infeliz.
 Procurem encontrar o equilíbrio e vivam despreocupados, retirando a vossa máscara sem qualquer pudor.

16 de junho de 2011

Espelho Meu ...


Me olho ao espelho e quem vejo? O ar difuso que a imagem reflecte me deixa dúvidas, não me apercebo se é do tom opaco do mesmo, ou das partículas de pó que o esfumaça. Me debruço e limpo cuidadosamente com um pano macio.
Quero me ver totalmente radiografada, sem medo da exposição absoluta a que me sujeito.
Estou num momento certo para me fazer uma total avaliação sobre esta pessoa que transporto comigo desde sempre.
Não no intuito de relatar valores altruístas sobre mim, mas no sentido de redescobrir quem sou. Dias e dias, anos e anos me persigo e me construo, juntando peças desordenadas do jogo do meu puzzle que vou encontrando perdidas no caminho, ou nos imensos recantos do palácio do meu mundo.
Espelhos de vidro, espelhos pessoas, espelhos casa, todos eles me mostram quem eu sou. Não me envergonho, antes pelo contrário. Meus passos esbarram cada vez com pessoas mais virtuosas. E me questiono, será que a minha existência está num patamar tão bonito que permite espelhar estas pessoas tão extraordinárias? Me alegro e me preencho com elas. Sinto-as como uma extensão de mim. Me fazem sentir bela. Não na beleza física, mas na beleza das paisagens que o comboio da minha vida percorre.
Cuido dos meus espelhos com muito amor, quero olhar com as limpas lentes da juventude da minha íris. A minha vaidade também quer ver a beleza exposta aos olhos de todos. Amo as poucas rugas que salpicam meu rosto aqui e ali. Sinto-as como que o pincel que pinta as emoções que tive o prazer de vivenciar. Sim, boas e más, pois todas elas resultam no produto que sou hoje.
Tenho estampado no meu rosto as imensas horas de choro, que fizeram parte das dores do crescimento. Dos passos mal dados e da bagagem que me acompanha desde o transporte daquele embrião ao planeta vida.
Os risos também cá estão, meu espelho não se esqueceu deles, sim, aqueles que alimento com as mais ternas carícias, pois não vivo sem eles.
Meu espelho gosta de mim como sou e eu vivo em harmonia com ele, quero me permitir envelhecer, não para já, agarro com muita força a juventude que prevalece intacta dentro de mim. Os anos resguardados da poeira, me permitem recomeçar a vida mais tarde e usufruir agora de uma juventude quase morosa, mas mais doce e requintada.
Minha casa é outro espelho, com extensas formas onde prevalece a grandeza de uma paz que atinge quem se permite contemplá-la. Este espelho não se distrai nem se engana, meus dias mais turbulentos colidem inexplicavelmente com o sapato fora do lugar.
Procuro arrumá-lo, mas a força das ideias desordenadas convertem rapidamente o lugar certo a ser ocupado pelo objecto errado.
Uma cadeia de acontecimentos que brinco de examinar. De nada vale brigar com eles, são o meu espelho, afinal, são o espelho de quem sou e de quem aprendi a amar.

15 de junho de 2011

Colorindo Palavras


 
Um longo sopro em direcção à exuberante onda que tenho pela frente, sai em forma de letras que misturadas com a água transformam-se em graciosas palavras.
Hoje só me vem à memória as palavras que verbalizei, aquelas que o meu coração permitiu chegar aos que amo e aos que me cruzei.
E aquelas que minha garganta abafou, não me permitindo partilhá-las com quem queria. Porque razão, será que eram desnecessárias, será que não eram as acertadas?
Dúvidas e mais dúvidas surgiam antes de lhes dar forma. Pensava primeiro nos outros, sim, pois não os queria magoar. Sentia que não tinha o direito de proferir certas palavras.
Hoje não é bem assim, raramente as engulo, atulhando o meu ser de frágeis castelos de areia de pensamentos ensopados.

Deixo sair os sentimentos sem receio, brincando de moldar e dar formas originais às palavras. Subo à proa do meu barco de desejos e admito jogar com o desafio de partilhas que o vínculo com os outros me permite.
Elas são a porta do convés que se abre para aquela magnífica viagem sobre gigantes ondas dando toda a liberdade ao meu ser.
Palavras vão, palavras vêm, uma delicia quando bem doseadas, e quando bem sentidas. Utilizá-las na perfeição é um grande desafio e uma constante aprendizagem.
Ora deixo sair os pensamentos límpidos de qualquer poeira, sem manuseamentos artificiais, ora a pureza de um sentimento, em comunhão com um meio exterior que não me pertence, é imprescindível cuidar.
Nunca sabemos o valor que uma simples palavra tem para quem a ouve. Tanto pode elevar um coração carente de amor e afeição, como pode destruir o bem-estar de alguém.
È bom saborear uma bela palavra recebida no momento certo, como também é delicioso espalhar o bem com palavras sinceras. Criando conforto e harmonia ao nosso redor.
Palavras feias, rudes e frias também compõem o nosso dicionário, e se existem são para ser utilizadas, mas há que abrir o boião delas o mais raramente possível. Esse doce estragado pelo tempo, tem o odor da desagradável fragrância que invade a praia de qualquer um.
Palavras se ouvem, palavras se soletram, palavras se escrevem, atropelando-se no intuito de serem as escolhidas para ocuparem o lugar central do texto.
Palavras se lêem, ora em longos textos, ora em pequenos trechos, linhas de informação, linhas de diversão, histórias de encantar, notícias bombásticas, verdadeiras ou não. Mensagens de carinho e recados rápidos acompanham a nossa constante corrida contra o tempo.
Gastam-se, constroem-se, lêem-se e reciclam-se deixando livre a página, e a memória para futuras palavras acompanhadas de colossais bagagens que chegam apressadamente dos mais diversos mundos.
Atrevam-se e abram o dicionário das vossas vidas pintando os vossos lábios com as mais coloridas palavras, deixando os tons escuros no fundo do estojo da vossa maquilhagem.
Pois a vida só pode ser bela se a cuidarmos e a embelezarmos com formosas palavras.

14 de junho de 2011

Vulcão da Renovação


Um espelho de água em forma de pessoa inconveniente ao meu redor, que suplica pela corrida fugaz em torno de um sentimento de total insatisfação. Subitamente se fez luz, abri o jornal das minhas dúvidas e encontrei no final da página das soluções acertadas, aquela que precisava instantaneamente de ler. O desassossego criado por uma relação que espelhava o antes de mim, aquela pessoa quem pensava já ter ido embora, mas que as raízes que alimentei durante anos, mortas de vontade de secar, renasciam, disfarçadas de pedaços de rascunhos em papel já manchado pelo tempo.
Imensa vontade de rasgar todo o pano que me cobre e rebuscar o mais precioso néctar que está escondido dentro de mim. Ofuscado por camadas e camadas de tecidos de cores e padrões diferentes. A estrutura de cada um ora é denso, impedindo entrar a luz do dia, ora é frágil, deixando passar a mais leve brisa marítima.
Salto da cama, agarro com força a vontade que me assolou e a transformo na pujança de um projecto que vai começar. Me embelezo como quem se prepara para assistir a um casamento. Sim e é, o casamento que une os dois pólos do meu ser.
Um amplíssimo mundo interior cheio de sonhos.Com vontade ilimitável de aprender e crescer com profundas e purgadas raízes. Sustentadas pelo bem e pelo amor que as alimenta a cada respiração. A consumar-se com um mundo exterior que ficou totalmente ao meu alcance depois de ter saltado a janela do meu corpo.
Lá fora me espera o barquinho de noz com a sua peculiar vela que me permite navegar pelo infinito rio de lava do meu vulcão que acabara de explodir. Deambulo pelas cores ardentes da enxurrada que me cercam, ainda não é no primeiro porto que embarco, apesar de já ter comigo toda a determinação em forma de ferramentas para iniciar este projecto de grande envergadura.
Espero mais um pouco, pois sei que não é para já. Pelo menos neste instante. Aí está o doce paladar do que se aproxima a passos largos. A lava depois de explodir segue o seu percurso, e eu vou com ela. A minha forma ainda indefinida contém tudo o que preciso. Envolvo o meio que me rodeia, como o calor desta chama que sugou todo o meu espírito de luta e garra.
Um monumental obrigada a essa pessoa grosseira que me permitiu despertar. È altamente desafiante, e meu ser está envolvido até à medula nesta deslumbrante aventura. Vale a pena, é uma oportunidade única, como cada segundo de nossas vidas que jamais volta atrás.
Não há a mais pequena dúvida que todas as pessoas aparecem nas nossas vidas nos momentos mais exactos da nossa existência.
Bem Haja a todas!!!

6 de junho de 2011

Um pouco de mim


“Após um fatídico dia de trabalho, uma vontade imensa disparou sobre mim, Instalar-me numa sala de cinema e assistir a um empolgante filme que me permitisse viajar pelo sonho e pela fantasia.
O bilhete de entrada exibia o toque suave da delicadeza da mais macia pele. Paguei o preço do valor de uma amizade que explodia dentro de mim com o encanto da serenidade que me transmitia.
Entrei na sala, ainda vazia, onde o brilho das suaves luzes em consonância com o macio chão alcatifado me proporcionava a sensação de flutuar sobre leves nuvens de um tom azul igual às cores que coloriam as paredes.
Me sentei confortavelmente bem no centro da plateia aguardando o início da sessão.
… Continuei esperando, até que me apercebi que a sala naquele dia estava totalmente guardada para mim. A tela escura deu lugar a um filme de total cor branca, a forma das personagens era nula, o movimento inerte se fazia ao som da música que tocava. Todo o meu corpo se sentia embebido pela suavidade da doce melodia que aromatizava o espaço que me envolvia.
Assistia a um filme nunca antes imaginado, de um intenso conteúdo. Me sentia totalmente inebriado pela aventura da minha vida a qual parecia se expor em cada segundo que passava. Reflecti sobre cada estação que dela fazia parte. Explodia com toda a agitação de emoções que vieram à tona.
Apesar disso me sentia sensivelmente envolvido de uma paz sem fim. Aquela tela branca em sintonia com a suavidade da melodia criara em mim um sentimento totalmente mágico.
Envolvido por todo este encantamento, meu coração pulsava tocando a música da minha vida.
As horas passaram sem me dar conta, acordei serenamente deste transe psicológico, contemplando as mais lindas janelas que se abriam para o mundo. Uns olhos amigos que exibiam a límpida luz da alma que sem receio algum deixavam sair os seus sentimentos mais sinceros e profundos.
Parti sereno, com a agradável sensação de ter recebido gratuitamente um maravilhoso presente, sem forma mas de valor incalculável. Só não imaginei ter retribuído a mesma paz e tranquilidade a quem me ofertou com tamanha simplicidade. Não imaginei o quanto a minha presença e a nobreza das minhas palavras, alteraram o outro ser com quem partilhei esta parte da minha vida.”
Não haja dúvida que na grandeza de uma amizade onde prevalece o ingrediente sinceridade, se colhe o melhor tesouro da vida e se recebe muito mais do que se oferece.
(Relato contado na segunda pessoa.)

1 de junho de 2011

Perfume da Amizade



Apanhando o comboio da vida apeei-me na estação das flores. O cheiro a jasmim era intenso e a minha vontade ficou mais que nunca embebida pelo forte desejo de tratar cada um com a dignidade e honra merecida.
Contemplando as finas flores de cores cintilantes, uma certeza pairou sobre mim, a sua beleza se assemelha à beleza de uma amizade. A delicadeza dos tenros botões que as rosas brotaram, alimentam-se com o cuidado, o carinho e as pertinazes visitas, irradiando um ardente perfume.
Meu ser se nutre com as belas amizades, que este imenso jardim me presenteia, onde deposito o todo o meu amor, desenhado na forma da pura essência tal como os raios do sol tocando as plantas as faz florir e as árvores de esbeltos troncos onde se avistam os toques de uma amizade livre que enraíza com o alimento da lealdade, permitindo colher os frutos da maior expressão de afecto humano.
Me encontro de rosto estampado num imenso lago, como alguém que se olha ao espelho e revejo sementes de mim em cada um. As pétalas de flor que desenham os meus amigos demonstram algumas virtudes que o meu ser contempla, com delicadas características, aquelas que me envaideço e quero engrandecer, como quem se orgulha pelos seus ilustres atributos. Caules escurecidos também fazem parte, aqueles com que me debato imensas vezes querendo arrancar de mim como quem retira a erva daninha que ofusca a formosura das lindas orquídeas deste singelo jardim.
E eles vão e vêm tal como uma encantadora borboleta que sobrevoa ao som do toque do meu relógio, que pulsa segundo a segundo na perfeição, não pulando nem se esquecendo de nenhum, pela importância única que cada um tem.
Com os meus amigos eu sou tudo. Naturezas de imensas cores, aceitando todos com grandeza altruísta. È o seu conjunto que torna o jardim da minha vida mais colorido, único e imprescindível à minha felicidade plena.
Se um amigo vai e deixou em mim grãos de pólen de outra personalidade, procuro semeá-los no mais delicado canteiro, esperando colher o mel do bom carácter que me esforço por elevar.
Se um amigo vem eu o recebo de braços abertos e com a vontade de embarcar numa nova viagem de partilhas. Acreditando que o semelhante atrai semelhante, que o novo amigo traz com ele a meticulosa função de espelhar o meu ser nas semelhanças, e despertar nas diferenças. Tenho sede de aprender, as regas cuidadas são constantes, o meu coração cresce com eles, meu carinho e vontade de amar cada pessoa com a intensidade máxima, fazem de mim um ser cada vez mais completo.
Pulando delicadamente de pedrinha em pedrinha, passeio deliciada pelo meu jardim, e assim segue uma vida repleta de afectos, nutrida da vontade de continuar a plantar as mais tenras flores e sentir o aroma de sinceras amizades.
E nunca esquecendo o reluzente sol que se vai pondo de mansinho, permitindo o meu pensamento acompanhá-lo e adormecendo com a lembrança que o alvorecer de um novo dia me vai ser ofertado, com sublimes amizades, transbordantes de amor e carinho.