28 de setembro de 2011

Simplesmente porque nada me pertence...



Na orla violeta de um corpo, aninha-se minha alma, no leito quente deita meu coração, uma longa viagem me permite percepcionar que nada me pertence.
Deste corpo, considero-me meramente usufrutuária. Um estatuto que em nada declina o valor que tem para mim, por essa razão, e sendo ele que acolhe minhas preciosidades o afago com o mesmo carinho que exonero meu maior amigo, permitindo-me flutuar no planeta Terra.
Numa degradação física inevitável, muito há a fazer. Cantando diariamente a melodia de cuidados extremosos, em que cada pauta exulta um som único de comunhão entre o corpo, alma e espírito.
Um Ser, um canal do Universo! Uso minhas armas para dividir com os outros o melhor que tenho, enaltecendo deles a sua sublime grandeza. Porque amigos, essas pérolas do meu reino, são uma fonte inesgotável de constante felicidade quando recebidos de mãos abertas por uns e compartilhados com outros.
Uma imensa ternura social de prazer me permite sentir a pujança do amor entre todas as criaturas.
De meus bens, quando posso, irmãmente desfruto deles, convicta que é repartindo, que o regalo em possui-los é maior. Procuro promover algum desprendimento em prol de enaltecer o bem supremo que explode do “meu Eu” mais profundo, o mar de sentimentos.
Consciente que ambos são necessários, admito instalar um a um hierarquicamente no espectro luminoso do meu universo.
Uma preocupação constante de zelo com a bagagem, para que quando partir vislumbrar-se limpa de resíduos materiais, onerosa de boas acções e de bons momentos. Recheada de partilhas materiais e humanas que fazem vibrar meu coração a cada dia.

15 de setembro de 2011

Na viagem do esquecimento


Sinto-me o bilhete de avião daquela viagem magnífica a Cuba que ficou para sempre na memória. Este gravou originalmente meu nome e deixou-me secamente pendurada em corações que adoro e transplanto junto ao meu como relíquias únicas.
Sentimentos vazios guardados nos arquivos de minhas saudades, desaguando num rio de verde esquecimento, como aquele lodo que recrudesce no lago de tartarugas.
O alimento continua a permitir-lhes sobreviver, mas a alegria, essa disfarçada de nenúfares sem vida onde as flores há muito prescindiram de conceder a magnífica cor que regalava aos olhos de quem dele se aproximava, vão secando acompanhando as lembranças que se exauram a cada dia.
O frio da tristeza toma conta de mim, me cubro de camadas de esvoaçantes mantas de memórias, me permitindo dar uso ao bilhete de viagem em que me refundi.
E é assim que me divido entre o voo que minha imaginação dá asas e o deslize rastejante pelo fundo do lago.
… Mas, algo prevalece sempre em mim, uma alegria e garra que me permito sorver em cada respirar. O escuro fundo reflectido na água contrasta com a aura da luz do sol, me segurando como um pára-quedas que não me deixa embater contra a montanha de tristezas que me querem atormentar.
Esta saudade avivou-me a quebrantada memória, explodindo em mim o Danúbio do amor que prevalece, não se deixando abater de ânimo leve pela indiferença de quem valorizei e partilhei o melhor de mim.
Retalhos de uma vida que nunca se mostrou fácil, das relações de amizade e amor que ora desgastam, ora nos fortificam e permitem pôr à prova até onde residem a nobreza dos nossos sentimentos.
Onde começa e onde termina o nosso amor-próprio. Um espelho que reflecte migalhas de carinho disfarçado de doces palavras. Acreditamos com afinco, porque a beleza da vida mostra-se sempre no lado bom e é esse que ansiamos ver. Mas dias escuros nos retalham por dentro e nos conduzem à honrada realidade permitindo-nos crescer e amadurecer com solenidade.

5 de setembro de 2011

Utopia da Mudança



Bateu fortemente com a porta, entrou com ela a vontade da suprema mudança que se avizinha necessária. Limpam-se as armas poluídas do aturdimento cerebral, fazendo brilhar de novo a beleza dos canos sobrepostos.
A batalha vai começar, abeira-se dos medos que te amedrontam e rapidamente vão ser destruídos com a mesma frieza com que te desejam aniquilar.
O espaço por eles ocupado ostenta-se necessário para algo tão primordial como a vontade de se fazer sentir inteira novamente. Porque os medos desfragmentam teu corpo em minúsculas personalidades. Deambulas pela dúvida de saberes quem és e o que ambicionas. Eles pegam no comando da tua vida e querem desviar-te do túnel da maciça paz interior para um opulento labirinto. Fazendo-te acreditar que esse é o caminho certo em busca do ouro e do marfim e que o teu querer é que está equivocado.
Mas a personalidade que vens a lapidar ao longo da tua vida, te elevou ao majestoso estatuto de saberes quem és e o que queres. Onde reside o teu poder e as tuas vontades. Poder esse que não mais te deixa hibernar, olhando uma vida sem tomar as rédeas do comando.
Hoje logra o dia da tua glória que se permite eternizar. Sentes o prazer de guerrear com a pujança do valor de uma vida que só a ti te pertence.
A tua força alimentada à medida da tua perfeita convicção mostra-se ilimitada. A dificuldade de profligar as silvas de espinhosos medos, se foram, o caminho encontra-se livre e as tuas energias estão ao rubro.
Os passos a dar, vão sempre em frente sem qualquer temor, e o olhar, esse nunca se desvia para trás. Já não quer mais viver o desconforto dos quentes problemas que ilusoriamente te envolviam como necessários pela confiança que te davam, ao ponto de lhes permitires descansar na partilha da tua almofada, ouvindo-os com a máxima atenção nas longas noites de insónia.
Neste dia o novo espaço mostra-se amplo, o ontem reduziu à poeira as cinzas que o vento levou. A tua respiração passa suavemente por todo o teu corpo e com ela gritas o quão livre se sentes á mudança que presenteaste, perfeitamente consciente que é inovando que se progride da direcção de um futuro próspero.