23 de novembro de 2011

Cada vida um contrato de aluguer


Tenho a impressão que aluguei uma parte deste mundo para mim.         
Sou hóspede dele enquanto as batidas do meu coração paralisarem o relógio que pulsa segundos.
Alguns parecem saltar em branco, como se sustessem a respiração de tanto quererem escutar as vozes silenciosas dos pensamentos de quem me cruzo.
Um burburinho de nadas, de vagueantes que talvez gratifiquem o aluguer aqui na Terra com o trabalho de suas mãos a aquecerem o fundo dos bolsos.
Outros, estou certa, que abrem as carteiras e trocam o maço de notas do trabalho concluído no escritório após saírem a altas horas de regresso a casa, convictos que recompensaram o tempo longe da família e dos filhos que nem repararam ter crescido.
Vidas que fogem da morte como se com ela tudo terminasse. Ou não!
Destinos, será? Quem o faz? Quem o dita?
Como o pai do meu amigo que numa milésima de segundos e após o estrondoso acidente de comboio, virou pó.
È o que nós somos! Uma vida de matéria submersa que respira enquanto pagamos o aluguer.
E será que lhe pagamos o justo valor?
Será que o relógio não nos vai pedir indemnização pelo tempo mal consumido?
Quero-me sentir em casa, sem precisar de remunerar o espaço que ocupo. Sem remorsos, pela nuvem negra das minhas indignas atitudes, esconderem a luz do sol.
Não quero viver voltada para a parede á espera de ouvir o ranger da porta a abrir-se e virar-me repentinamente, correndo lá para fora festejando a opípara liberdade dos meus olhos que já latejavam de tristeza.
Encolhida me enxergo. Reflicto no espelho de água que a chuva lavou, as dúvidas que me tomam. Tento me erguer e elevar-me à importância de me sentir gratificada e com a conta saldada por viver exemplar no mundo que me hospedou aquando cá cheguei.
 “Missão cumprida”, é a melodia que embala meu sono toda a vez que os lençóis me acolhem após mais um dia que finda.
É pois, vivendo na iminência de ser despejada a qualquer momento, que me resta cumprir o meu dever escrupulosamente e desfrutar de cada momento como se fosse o ultimo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Expresse as suas ideias e pensamentos aqui, mas sem qualquer tipo de linguagem obscena ou abusiva. As suas opiniões são importantes.