24 de outubro de 2011

... e eu?


O abraço que chega na hora em que a medula já congelava da falta de afecto.
A palavra amorosa que toca ainda quente o ouvido, no momento de desespero em que o turbilhão de problemas lhe fazia sentir que nada valia a pena.
A presença notória que abraça sem gesto e aquece sem toque, que anula a expressão de expectativa, resultando a tristeza de um olhar que já não se esconde mais.
O telefone esgotado da antiguidade, toca em surdina, rompendo o silencio já carregado da poeira da solidão.
A velhinha senhora, vincada pelas irregulares rugas, suplica o afecto dos filhos e netos que a olham como um estorvo esgotante de instantes de lazer.
O doente fita ininterruptamente a porta aguardando micas visitas, solicitando já desesperado, afago às gotas de chuva que escorrem pela janela.
Desaperto os fios dos sapatos, com desconsolados pensamentos que me abotoam e me trazem à triste realidade. Recolho-me incrédula nesta amálgama de sentimentos, a destilada impotência de males que não consigo resolver e de desgostos que não se descortinam cessados.
O ombro amigo abortado de impossibilidades de cooperação, curva carregado dos seus fantasmagóricos enigmas sem alcançar soluções.
O fardo de consecutivas inquietações que se acumulam dia após dia e penetram o silencioso grito do apoio que não acerca.
Preocupações de ser, apoiar, e oferecer espontaneamente a palavra amiga que anseia ouvir. O querer ansiosamente receber o troféu da bondade, gratidão e da caridade fazem-me ecoar, e eu?
Quem se diz disponível para me ouvir, para me ajudar, para me dizer, estou aqui?
Amargos murmurinhos de vozes que se sobrepõem e repisam silêncios de palavras que não chegam mais ao meu coração. Da ajuda que suplico e do ombro amigo que perdeu o vigor para apoiar o meu mundo de problemas.
Amigos sim, mas ausentes das dificuldades que os cerca  em elevado grau e os preenche de contados segundos que os seus relógios já não disponibilizam mais para quem  manifestam conceber uma amizade sem fim.
Obrigado a todos os que se afastaram e não mais tiveram tempo de ouvir as minhas lamechas. Permitiram brotar dentro de mim todo o apoio e amor que procurava em cada ser que ascendi ao estatuto de amigo.  
Assenti descer ao meu mundo de momentos aflitivos, dor e angústia, compartilhando com todos os eu’s que avançam comigo na estrada da vida, e apregoar até ser ouvido no mais obstruso de mim: Tens inexplicavelmente dentro de ti tudo para te abraçares infinitamente com o maior estado de felicidade: A paz, o amor e a bondade!

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