13 de outubro de 2011

Traçando Vidas


Serpenteia uma rua repleta de gente, os ritmos, esses são extraordinariamente diferentes.
Interesso-me pela análise minuciosa de cada um. Individual sim, porque cada pessoa deve se reger por ela a e ela mesma.
Infelizmente sei que isso nem sempre acontece, as influencias nas personalidades mais frágeis, nas pessoas inconstantes, levianamente alteram comportamentos com a facilidade de um bocejo.
Continuo inerte na minha torre de controle a dissecar simplesmente. Meus olhos pintam de brandas cores a realidade enquanto os sons entram nos meus ouvidos como um sussurro. Ambos deixam-me focar em paz não criando o mínimo deslize à minha vigilância.
Aéreas pessoas deslocam-se a passos tão rápidos que dão a entender que o mundo vai acabar logo a seguir ao almoço e apenas dá tempo para deglutir o ultimo café.
Outras, por sua vez, movimentam-se tão tranquilamente, como se fossem os clientes numero um do espaço Zen mais famoso de Lisboa. A sua tranquilidade faz reflectir. Afinal esse deveria ser o passo adoptado por todas, mas o burburinho interior assim não o permite.
Os rostos, lindos e fantásticos, cada vez mais polidos e retocados, fazem acreditar que estamos perante o maior evento de moda de Paris. Deixando escapar olhares foscos despojando com eles tristezas e insatisfações.
Velhos, transparentes na miragem de muitos, também lá estão. Uns sentados no banco do jardim à espera que mais um dia das suas vidas passe rapidamente, para que as dores físicas e as dores da solidão não os consumam por dentro, como aquele copo de água que num momento de desesperada sede se engole instantaneamente.
Outros, vencedores, arrastam dolorosamente suas já estafadas pernas, apoiadas muitas vezes pela imprescindível bengala, na tentativa de reduzir o esforço de carregar os anos, os problemas e as angústias, fazendo-se notar pela forte capacidade de luta e garra. Transmitindo o quanto a vida é válida até que algo superior detenha a sua continuidade, porque enquanto a máquina cerebral assim o permita, será sempre possível encarcerar o comando de um móvel corpo físico.
Há ainda quem observe e goste de ser notado, fazendo sentir a quem por eles passa que são pessoas, com sentimentos e quereres, outros, não sei se vivem dentro da cápsula de abrigo, ou se sentem num intocável trono, prognosticam a quem esbarram, com esforço aparente, que a dimensão do seu ego é tal, aparentando querer a humilhação do próximo, forçando-os a sentirem-se objectos vazios de conteúdo, desnecessários à suas ricas vidas, recheadas do gracioso e do belo.
Somos o vento que passa aos seus olhos, não tendo a possibilidade de alterar nenhuma das paisagens que estranhos olhares vislumbram. De uma mera ilusão assim vivem, porque a vida, essa maravilhosa faculdade de conhecimentos, encarregar-se-á de lhes dar o imprescindível diploma da humildade.
Prossigo, na real viagem pela sociedade de culturas, gostos e personalidades diferentes, olhares lanço, gestos decifro, uns resplandecentes, outros enigmáticos, mas cada um me instrui. Albergo tranquila aos meus aposentos, ciente que todos têm uma missão nesta vida, Compete a cada um entender qual é a sua, e a nós, resta-nos a argúcia de seguir a nossa com mestria.

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