6 de outubro de 2011

Uma janela para o mundo, uma porta para a solidão


Como tantas noites, o sono se infiltrou nos lençóis macios, mas a alma ao invés do descanso na fofa almofada, caiu nas redes do infinito túnel da realidade brutal que a contaminou.
Uma solidão bordada pela transparência da companhia que se fez invisível.
A radical transformação do planeta, marcado pelas fissuras que tomaram conta da sua forma, deixaram por elas entrar um vírus, contaminando silenciosamente toda a sociedade.
Dando lugar a uma nova vida que deixou de se cobrir com as vestes da sabedoria e do encantamento, de saborear cada estrela oferecida pelo céu gratuitamente, da pintura que o pôr-do-sol regala ao olhar, e se preenche de desbotadas luzes disfarçadas de palavras, imagens e sons de horas esquecidas por trás de um impessoal monitor.
Contaminou-nos a novidade da Internet que se aproximou a passos largos, exibindo o outro lado de uma vida fácil mas totalmente descartável e assassina.
A cada dia deixamo-nos perder nas teias de algo que discretamente abre a porta para o conhecimento. Passamos a deter a ilusória sabedoria, fazendo-nos sentir os mestres desta desapiedada informação.
Um novo conceito de família se vive, o Todo é substituído pelo individualismo e pela independência. As partilhas, a união e as conversas vão-se dissolvendo e doentiamente transformadas em orvalhos de solidão.
Encontramos nela, a janela aberta para encontros e desencontros que se desenlaçam com a destreza de um piscar de olhos. As conquistas fáceis pagam-se pelo desmoronar dos amores mais profundos.
Os amigos reais ressaltam na distância do tempo perdido atrás desta luminosa janela, transformando-se em virtuais, falsificando a vontade do aconchego físico. Em momentos complicados onde o apoio se torna o balão de oxigénio para erguer vidas que rastejam e suplicam por um ombro amigo, que buscam ferozmente a palavra de apoio, findam com o silêncio a ecoar mais alto.
Criam-se à pressão amigos virtuais, abraçados pelas supérfluas partilhas repletas de novidade, alegria e prazer, onde os problemas são meramente utopia.
O saldo analisado com a minúcia necessária, leva à triste conclusão que está muito além do negativo. O lado bom, não compensa os dissabores que ela arrasta.
De que vale a sabedora se no dia-a-dia não se aplica, se o verdadeiro valor vai-se perdendo, famílias se desfazem, amigos se perdem, se momentos de lazer são sugados ….
Há que segurar nas rédeas das nossas vidas enquanto é tempo, filtrar com o rigor e a urgência necessária. Viver com a real consciência que o que é verdadeiramente valioso, quando perdido, por vezes não volta mais.
Simplesmente porque neste moderno mundo de ilusão tudo se dissipa drasticamente.

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