9 de fevereiro de 2011

A Leveza que se chamava Pesada


Certo dia a mãe acordava a menina chamando-a: Pesada... Acorda filha, que se faz tarde para ires para a escola. E de novo voltava ao quarto continuando a chamar: pesada acorda.
A menina sem perceber muito bem lá acordou com o barulho, mas até pensava que a mãe não estava a falar para ela. Sim, porque o nome dela era Leveza e não Pesada como a mãe nesse dia teimava em chamá-la.
Depois de sair da sua camita  e de ter lavado a cara para se sentir mais desperta. Dirigiu-se à cozinha para dar os bons dias à mãe e para tomar o seu habitual pequeno almoço. Chegou então perto da mãe, deu-lhe dois carinhosos beijinhos e lá perguntou: Mãezinha, porque é que hoje estás a chamar-me Pesada e não Leveza que é o meu verdadeiro nome e que eu tanto gostava? Filhinha, respondeu a mãe carinhosamente, chegou a altura de começares a chamar-te Pesada. Quero que antes de começar a aparece-te os pesos que a vida traz comeces lentamente a habituar-te ao peso da vida através do nome que te acompanha.
Mas mãe...Indignada e triste lhe pergunta a pequena  criança, tinha-me dado o nome de Leveza à minha nascença e eu gostava tanto.Com esse lindo nome eu me sentia livre, leve, e muito Feliz. O próprio nome, começando pela letra “L” faz lembrar as ondulações do mar e a brisa do vento, é tão agradável. Já o nome Pesada é tão desconfortável. Oh mãe, disse a  menina, esse nome faz-me sentir triste, “Pesada” faz lembrar Pedra, peso. Faz-me sentir que carrego algo que me faz viver “lá em baixo”, parece que vivo junto ao chão, faz-me sentir que o peso que transporto comigo apenas me deixa rastejar pela vida, sinto que não me permite pular olhar o sol e tudo o que está no alto.
E a menina lá continuava a tentar convencer a mãe a não lhe mudar o nome para pesada, mas as suas tentativas foram em vão. A mãe achava que esta era uma forma de poupar a filha às atrocidades que lhe iriam aparecer ao longo da vida e que com o nome de pesada iria ficar muito mais forte para enfrentar qualquer obstáculo.
E tristinha, a menina lá foi para a escola, desta vez até sentia que andava mais devagar, o peso do nome provocava-lhe cansaço. Já não sentia aquela vontade de pular e de correr.
Quando regressou da escola, parou  perto do rio por onde passava no caminho para casa.
Sentindo-se tão só e triste com a vida, sentou-se e olhando para o céu pediu: Querido céu ajuda-me a ultrapassar esta minha tristeza. Faz com que eu volte a ser a menina feliz e alegre como eu era. O que eu posso fazer para recuperar o bonito nome que tinha e que
e perdi. E o Céu afastando devagarinho uma nuvem escura que tapava o sol, deixando-o assim brilhar, respondeu-lhe:
Linda e doce menina, a tua mãe pelo enorme amor que tem por ti quis te proteger, não
quer que sofras mais tarde, mas se não tiveres medo, essa mudança de nome não te vai tirar a tua alegria de viver. Eu digo-te o que tens a fazer que te vai ajudar a compreender que não precisas ter medo de nada, pois esse medo é que te está a tirar a tua alegria e não é por teres deixado de ser chamada de Leveza como tu pensas.
A menina sentindo-se o pouco mais animada disse, diz-me então, querido céu, o que tenho a fazer, que eu farei tudo o que for possível.
E lá o céu lhe explicou. Pegas nesse lindo barquinho azulinho que está ao teu lado e vais percorrer o rio tantas vezes até entenderes como ele funciona e vais ver que esse exercício te vai ajudar a compreender como a vida funciona e como os medos te bloqueiam e te tiram toda a alegria.
E assim foi, a menina conforme ia remando rio acima, rio abaixo, ia percebendo como aquelas aguas cristalinas contornavam todos os obstáculos que apareciam, sentia-se cada vez mais inundada de alegria ao observar que aquelas aguas iam passando por cima das pedrinhas, dos galhos partidos, passavam por cima das ervinhas mais pequenas ou contornavam as maiores, mas nada fazia parar o seu percurso. Cada vez mais se apercebia que não havia peso, não havia receios, nem tristeza, nada, ele simplesmente continuava a fluir. Ao longo do percurso, ela apercebeu-se que o seu ser continuava tão leve como antes quando se chamava Leveza, e que não era por ter o nome de Pesada que deixava de ser a menina alegre de antes. O novo nome, de modo algum iria mudar alguma coisa na sua vida e a sua mãe poderia voltar a chamá-la de Leveza, que só o simples facto de ter vivido este dia desta forma diferente, a tinha feito compreender tanta coisa na vida e também se sentia muito mais forte. Mas chegou uma altura que começou a sentir-se cansada, saiu então do barquinho e exausta acabou por adormecer à beira do rio.
Mais tarde acordou sentindo uma carícia no seu rosto, era a sua mãe que carinhosamente estava a acordá-la para mais um dia. E a Leveza muito feliz saltou da sua camita e abraçou e beijou a sua mãe com toda o amor deste mundo.
 

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