16 de junho de 2011

Espelho Meu ...


Me olho ao espelho e quem vejo? O ar difuso que a imagem reflecte me deixa dúvidas, não me apercebo se é do tom opaco do mesmo, ou das partículas de pó que o esfumaça. Me debruço e limpo cuidadosamente com um pano macio.
Quero me ver totalmente radiografada, sem medo da exposição absoluta a que me sujeito.
Estou num momento certo para me fazer uma total avaliação sobre esta pessoa que transporto comigo desde sempre.
Não no intuito de relatar valores altruístas sobre mim, mas no sentido de redescobrir quem sou. Dias e dias, anos e anos me persigo e me construo, juntando peças desordenadas do jogo do meu puzzle que vou encontrando perdidas no caminho, ou nos imensos recantos do palácio do meu mundo.
Espelhos de vidro, espelhos pessoas, espelhos casa, todos eles me mostram quem eu sou. Não me envergonho, antes pelo contrário. Meus passos esbarram cada vez com pessoas mais virtuosas. E me questiono, será que a minha existência está num patamar tão bonito que permite espelhar estas pessoas tão extraordinárias? Me alegro e me preencho com elas. Sinto-as como uma extensão de mim. Me fazem sentir bela. Não na beleza física, mas na beleza das paisagens que o comboio da minha vida percorre.
Cuido dos meus espelhos com muito amor, quero olhar com as limpas lentes da juventude da minha íris. A minha vaidade também quer ver a beleza exposta aos olhos de todos. Amo as poucas rugas que salpicam meu rosto aqui e ali. Sinto-as como que o pincel que pinta as emoções que tive o prazer de vivenciar. Sim, boas e más, pois todas elas resultam no produto que sou hoje.
Tenho estampado no meu rosto as imensas horas de choro, que fizeram parte das dores do crescimento. Dos passos mal dados e da bagagem que me acompanha desde o transporte daquele embrião ao planeta vida.
Os risos também cá estão, meu espelho não se esqueceu deles, sim, aqueles que alimento com as mais ternas carícias, pois não vivo sem eles.
Meu espelho gosta de mim como sou e eu vivo em harmonia com ele, quero me permitir envelhecer, não para já, agarro com muita força a juventude que prevalece intacta dentro de mim. Os anos resguardados da poeira, me permitem recomeçar a vida mais tarde e usufruir agora de uma juventude quase morosa, mas mais doce e requintada.
Minha casa é outro espelho, com extensas formas onde prevalece a grandeza de uma paz que atinge quem se permite contemplá-la. Este espelho não se distrai nem se engana, meus dias mais turbulentos colidem inexplicavelmente com o sapato fora do lugar.
Procuro arrumá-lo, mas a força das ideias desordenadas convertem rapidamente o lugar certo a ser ocupado pelo objecto errado.
Uma cadeia de acontecimentos que brinco de examinar. De nada vale brigar com eles, são o meu espelho, afinal, são o espelho de quem sou e de quem aprendi a amar.

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