20 de junho de 2011

O peso da máscara


Saio à rua e fotografo pessoas que desalinhadamente vagueiam pelos passeios de calçada.
Me divirto observando-as, procuro as mais tranquilas de forma que a objectiva da minha máquina foque todos os pormenores. Mas me interesso também pelas apressadas, aquelas que correm atrás de uma existência e que nem tiveram tempo de compreender que essa vida que tanto buscam está totalmente ofuscada debaixo dos seus próprios pés.
È fácil verificar como as vivências são tão diferentes umas das outras. Há de facto pontos em comum, todos temos horas para comer e dormir, mas até mesmo essas, encontram-se em qualquer lugar perdidas pelos ponteiros do relógio.
Agora, o que está patente nas expressões que a minha lente permite salientar, é que uns apresentam uma beleza límpida de superficialíssimos, mas outros usam uma máscara tão pesada que as suas vértebras rangem no mais singelo virar da esquina.
È uma carga infeliz e desnecessária aos meus olhos, essa de querer a todo o custo aparentar quem não somos.
Está à disposição de quem quiser, comprar um mero bilhete de teatro e assistir confortavelmente a uma peça. Não me parece nada conveniente andar-se por aí a representar papéis que cabem bem aos actores e não a nós simples sobreviventes deste planeta chamado sociedade.
A entrada para assistir à peça “relato de nossas vidas” tem certamente o valor superior às posses de qualquer um. Paga-se o preço de anos consumidos e minutos desperdiçados a viver uma pesada vida de mentira, aquela que jamais volta atrás.
Pode até saber bem viver dentro de uma história de fadas e príncipes em grandes castelos, mas a fragilidade dos telhados de vidro que os compõem, fazem-se derrubar à mais leve brisa soprada pelo toque do malmequer que dança ao sabor do vento.
Fragilizam-se vidas, e fortalecem-se consultórios de psiquiatria a tratar de dramas e depressões que se alimentam pela pujança dos novos valores que a nossa sociedade se rege.
Parece que de um momento para o outro ficou em desuso o factor simplicidade e a beleza que vem de dentro em detrimento da beleza extrínseca e da ostentação.
Minha máquina fotográfica ficou triste com a pequenez destas visões. Teima em não registá-las. Entro em conflito com ela, pois afinal, faz parte do mundo onde estou inserida.
Na tentativa de me alegrar e entusiasmar esta objectiva de exigente personalidade, continuo a percorrer a rua da minha cidade, mas subitamente meu olhar se fixou num ponto. Minha máquina mudou de tom, meus dedos deslizaram calmamente e num clic lá registei um facto extraordinário. Um jardim cheio de crianças brincando livremente nos seus baloiços, despreocupadas de serem quem não são. De se fazerem passar por princesas de gigantes castelos.
 Com esta visão me questiono, será que eu é que estou enganada? Será que os adultos usam a máscara para continuarem a brincar aquela brincadeira que começaram em criança?
Seja qual for a situação, sinto que fantasiar é bom, mas viver eternamente mascarados, não nos permitindo criar espaço para viver a nossa única vida é que me parece totalmente infeliz.
 Procurem encontrar o equilíbrio e vivam despreocupados, retirando a vossa máscara sem qualquer pudor.

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